A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que promete o fim da escala 6×1 – quando o empregado trabalha seis dias consecutivos e tem apenas um dia de folga na semana – atingiu, na quarta-feira (13/11), a quantidade de assinaturas necessárias para começar a tramitar na Câmara dos Deputados.
“Do ponto de vista do trabalhador, a redução da jornada semanal oferece evidentes benefícios, proporcionando mais tempo para atividades pessoais, como estudo, convívio familiar e lazer, o que impacta positivamente a qualidade de vida”, argumenta Ângela Gonçalves, advogada trabalhista.
Entretanto, a profissional ressalta que também é necessário considerar os reflexos financeiros e operacionais que essa medida pode gerar para os empregadores. “A contratação de mais empregados para manter o funcionamento adequado da empresa, em virtude da redução de horas, poderá elevar significativamente os custos com folha de pagamento e encargos sociais”, acrescenta.
A princípio, as categorias mais beneficiadas pela proposta de fim da escala 6×1 são aquelas que atuam em setores com demandas contínuas, como comércio varejista, serviços de alimentação, saúde e indústria.
“Essas categorias incluem profissionais de supermercados, lojas de varejo, restaurantes, bares, hospitais e fábricas, onde o trabalho frequentemente envolve turnos longos e escalas de fim de semana para atender à alta demanda”, explica a também advogada Elisa Alonso.Tema ficou popular
O fim da escala 6×1 gerou grande engajamento nas redes sociais. Para Ângela Gonçalves, o tema ganhou destaque especialmente com o movimento Vida Além do Trabalho, liderado pelo vereador Rick Azevedo (PSOL-RJ). De acordo com a advogada, “[o projeto] traz uma visão autêntica e pessoal por sua própria experiência como balconista de farmácia, vivendo na prática a realidade de jornadas intensas e poucas folgas”.
Entretanto, a pauta também tomou conta das ruas de várias regiões do Brasil, na manhã da sexta-feira (15/11), feriado da Proclamação da República, quando milhares protestaram contra a escala 6×1. As manifestações aconteceram em Brasília (DF), São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Fortaleza (CE), Vitória (ES), Porto Alegre (RS), Recife (PE), Salvador (BA), Aracaju (SE), Belém (PA), Belo Horizonte (MG), Curitiba (PR), Florianópolis (SC) e Manaus (AM).
“O movimento ganhou força ao abordar o desejo por condições de trabalho mais humanas e sustentáveis, tocando em temas como saúde mental, tempo para a família e desenvolvimento pessoal. A combinação de uma proposta concreta de mudança com o relato de experiências reais criou uma poderosa identificação, mobilizando pessoas a apoiar e compartilhar a causa nas redes sociais”, afirma Ângela.
A advogada Elisa Alonso afirma que a popularidade nas redes também pode ser explicada pelo alinhamento da proposta com tendências globais, a exemplo do debate e da implementação das semanas de trabalho mais curtas em países como Islândia, Suécia e Espanha.