Rondônia ocupa, lamentavelmente, o topo da lista dos estados mais violentos para mulheres no Brasil, onde o feminicídio tem raízes profundas no machismo estrutural e na cultura da violência. Casos como o de Antonieli Nunes, brutalmente assassinada pelo parceiro em 2022 após revelar sua gravidez, são exemplos devastadores dessa realidade. Gabriel Henrique, acusado do crime, alegou um “ataque de ansiedade” ao descobrir que Antonieli esperava um filho dele, fruto de um relacionamento extraconjugal. O julgamento ainda não ocorreu, mesmo após dois anos, devido a manobras jurídicas que atrasam o processo.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2022/b/d/9zUsw4ThmNK8unFTxrAg/whatsapp-image-2022-02-05-at-12.43.33.jpeg)
Esse caso ilustra a violência que muitas mulheres enfrentam em Rondônia, onde o respeito à vida feminina ainda é visto como secundário, especialmente quando a mulher não se enquadra nos padrões conservadores da sociedade. Segundo a promotora Joice Gushy Mota Azevedo, o machismo impregnado no estado sustenta uma cultura de desvalorização da mulher, que frequentemente justifica ou tolera a violência, principalmente contra aquelas que ousam ter uma vida fora dos padrões tradicionais.
A psicóloga Anne Cleyanne, fundadora da ONG Filhas do Boto Nunca Mais, compartilha uma história pessoal de abuso sexual que moldou sua trajetória de ativismo. Ela destaca que o descrédito das vítimas e o silêncio imposto pela sociedade são questões centrais que precisam ser combatidas. A lenda do boto, frequentemente usada para encobrir abusos sexuais intrafamiliares, é um símbolo de como a violência contra a mulher é, muitas vezes, tratada como algo que não deve ser questionado ou discutido.
Além de iniciativas da sociedade civil, como a ONG de Anne, órgãos públicos como o Ministério Público e o Tribunal de Justiça de Rondônia têm intensificado seus esforços para combater a violência contra a mulher. Medidas preventivas, como o acompanhamento de medidas protetivas e o atendimento jurídico e psicológico às vítimas, são fundamentais. Em 2022, o Tribunal de Justiça lançou o aplicativo “Módulo Lilás”, que facilita o acesso de mulheres vítimas de violência ao sistema judiciário.
Os números alarmantes de feminicídio em Rondônia reforçam a necessidade de mudanças profundas. Segundo dados do Tribunal de Justiça, o primeiro trimestre de 2023 registrou um aumento de 153% nas denúncias de feminicídios em comparação ao mesmo período de 2021. Para a promotora Joice Gushy, apenas uma reconstrução cultural poderá mudar esse cenário. “Precisamos formar uma sociedade que reconheça, com igualdade, os direitos e as escolhas das mulheres”, afirma ela, reforçando que o empoderamento feminino é a chave para uma sociedade mais justa e fraterna.
A violência doméstica em Rondônia não se limita a agressões físicas. Casos de violência psicológica, patrimonial e emocional são comuns e frequentemente ignorados ou minimizados. É fundamental que a população entenda que a culpa nunca é da vítima, e que denunciar é o primeiro passo para interromper o ciclo de violência. Denúncias podem ser feitas anonimamente através dos números 180 ou 190, ou diretamente no Ministério Público.
A luta para mudar a realidade de Rondônia exige uma reavaliação dos valores sociais e culturais, além de um compromisso coletivo para garantir que as mulheres tenham seus direitos respeitados e suas vidas preservadas.